viernes, 30 de diciembre de 2011

Leo Nogueira

Quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Ninguém me Conhece: 23) Las Canciones Más Hermosas del Mundo de Joaquín Sabina
Depois de Noel Rosa, ninguém revolucionou tanto a música popular brasileira quanto Chico Buarque de Hollanda. E revolucionou sem revoluções. Amante da tradição, chegou timidamente, sem experimentalismos, mas sua aparição teve o efeito de um furacão. Claro que houve outros, inclusive os movimentos, como o da bossa nova e o da tropicália, mas o rapaz de olhos claros, sozinho, causou mais estrago na arte de se fazer canção popular. Tom Jobim foi um gênio incontestável, mas era letrista bissexto. Caetano é excelente letrista, mas se dá o luxo de errar não poucas vezes. Outros vieram, mas ainda têm que comer muito arroz com feijão pra superá-lo. De estilo inconfundível, rimas sufocantes e temas dos mais variados, Chico trouxe à canção popular uma elaboração tal que até hoje não foi superada. Apesar de o Rei ser outro, ouso dizer que o filho de seu Sérgio é o Pelé de nossa música.

(Quando eu lhe disse que a paixão/ Por definição não pode durar/ Como eu podia saber/ Que ela ia morrer de chorar?/ Não seja tonto, me censurou,/ Essa explicação ninguém solicitou/ Então melhor se calar/ Sinceridade assim não posso aguentar/ E assim foi que eu aprendi/ Que em histórias a dois convém às vezes mentir/ Que certos deslizes são/ Narcóticos contra o mal de amor/ Eu pretendia dizer que o destino é patrão do desejo/ Que a cama é um ringue de boxe onde cada assalto é um beijo/ Que o que arrepia a pele e agita o sangue termina/ Vira lixo a se acumular com a triste rotina/ Eu pretendia dizer a verdade ainda que fosse amarga/ Contar que, mais que as suas medidas, a Terra era larga/ Eu quis pintar-lhe um mundo real, e não um cor-de-rosa/ Mas ela preferia escutar mentiras piedosas/ Que o que arrepia a pele e agita o sangue termina/ Vira lixo a se acumular com a triste rotina/ E quando, após a quinta cerveja, falei de uma moça/ Que me fez perder a cabeça, gritou:/ – Cala essa boca de uma vez, por favor!/ E assim foi que eu aprendi/ Que em histórias a dois convém às vezes mentir/ Que certos deslizes são/ Narcóticos contra o mal de amor./ Eu pretendia dizer a verdade ainda que fosse amarga/ Contar que, mais que as suas medidas, a Terra era larga/ Eu quis pintar-lhe um mundo real, e não um cor-de-rosa/ Mas ela preferia escutar mentiras piedosas.)*

E o que Chico tem a ver com essa história? Explico: citei-o pra dizer em qual companhia o desconhecido Joaquín Sabina está. Sim, eu disse desconhecido. Se Sabina andar pelo calçadão de Copacabana ou pela avenida Paulista, por mais espalhafatoso que seja seu vestuário, vai, quando muito, conseguir algum olhar de esguelha. Nos restaurantes, pode comer sossegado, sem que venha um bando de fãs perturbar-lhe a paz. Mas estou me referindo ao Brasil. Se dissesse que o mesmo ocorre em países como Argentina ou México, por exemplo, diriam que estou de miolo mole. Por quê? Porque Joaquín Sabina, el Flaco, é o Chico Buarque da Espanha. Com muitas doses de rock’n’roll a mais, por supuesto. E a relação entre a Espanha e os países latino-americanos de língua espanhola, graças a Deus, não é igual a de Brasil e Portugal. Dessa forma, Sabina lota estádios em países como Uruguai, Argentina e México. Perdoem pela comparação com Chico, um realmente tem muito pouco a ver com o outro musicalmente, fora a voz um tanto esquisita e a encantadora poesia, mas foi a estratégia que encontrei pra falar de Sabina, visto ser ele o maior poeta da música espanhola... Estarei me repetindo?

(Corre, disse a tartaruga; vem me pegar, disse o covarde;/ Já tô de volta, disse um cara que nunca saiu da cidade;/ Salva-me, disse o carrasco; sei que foi você, disse o culpado;/ Cala a boca, disse o surdo; hoje é quinta, disse a terça;/ E não perfume frases que me façam cair na conversa/ Quero ficar só comigo/ Com o íntimo inimigo que se esconde num porão do meu coração/ O receoso, o fugitivo, a face oculta de um refém/ O filho bastardo da cautela/ O que apenas se revela, se eu me revelar também/ O caprichoso, o orgulhoso,/ O outro, o cúmplice traidor./ Eu tô falando é com você, que nunca escuta meus conselhos/ Eu tô gritando é pra você do outro lado do espelho/ Que tá cansado de viver aí chorando de joelhos/ A quem nada devo além do empurrão que ontem/ Me fez cometer essa canção./ Não minta, disse o mentiroso; passe bem, disse o coveiro;/ Não perca a sua alma, disse, pesando a carne, o açougueiro;/ Prova-me, disse o veneno; ama-me com o ódio dos amantes/ Qual seu preço?, disse o gângster; tô limpo, disse o traficante;/ Já tava me entregando quase a ponto de explodir as bases,/ Quando, à beira do caminho,/ Uma flor, com seus espinhos, me cegou, e eu pude ver lábios de mulher/ Que tal me pagar um trago?/ Eu te levo onde quiser/ Quando bebo, gosto de um afago/ Eu lhe perguntei quem era. Disse que era mais de mil:/ A puta, a santa, a bruxa, a fada… Falou calada e me sorriu.)*

Todos sabemos que o Brasil é uma ilha de língua portuguesa cercada por hispanofalantes, mas o problema não é esse. O problema é que por aqui não há o menor interesse pela farta cultura que se produz nessa língua. Nossa preguiça e nossa subserviência ao Tio Sam acabam roubando de nós o contato com uma riqueza com a qual nem sonhamos. Aos poucos procurarei trazer a este espaço um pouco do que descobri em minhas andanças, mas hoje gostaria de falar simplesmente do melhor, digo, mejor: Sras. e sres., apresento-lhes o espetacular Joaquín Sabina!

(Com meus quarenta e dez/ Quarenta e nove dizem que aparento/ Mas, se chegou a vez/ De deparar-me com o delicado momento/ De passar a pensar/ Em recolher-me, e, sentado à uma mesa,/ Me resignar a ditar testamento/ [Perdão pela tristeza]/ E pra que meus dependentes, constrangidos a um futuro furado,/ Não sofram o que sofri, vou decidido/ A não lhes deixar legado/ Só meus poemas de amor/ Um corte no coração e um mar de dúvidas/ Co’a condição de que não os liquidem no atacado, minhas viúvas/ E, quando minhas filhas sintam na alma/ Saudades de minhas pilhérias/ E um brusco calafrio mostre a bastilha/ Onde passo as minhas férias/ Serei um mal exemplo a se trancar/ Do lado esquerdo do peito/ Junto com os beijos que não soube dar/ E os meus diversos defeitos/ Porém sem pressa, que a missas de réquiem/ não sou lá muito chegado/ E o terno de madeira que estrearei/ Nem foi ainda plantado/ E o frei que vai me dar a extrema-unção/ Ainda é menos que um filho/ E que pra ser comercial, esta canção carece/ De um bom estribilho/ Desde que saio com a pálida dama/ Ando mais morto que vivo/ Porém, dormir o sono eterno em sua cama/ Me parece excessivo/ E tudo o que nunca me cansei de buscar/ Em lábios, mares sem portos,/ Dizem que há beijos vindos de ultramar/ Que ressuscitam os mortos/ Se de visita, vierem à minha cova/ Quando for meu aniversário/ E eu não estiver, favor ninguém se comova/ Até que volte o otário/ Pois quem irá se importar/ Se um pobre morto mantém ainda seus vícios?/ No dia do juízo final, quem sabe Deus venha advogar em meu benefício/ Porém sem pressa,/ que a missas de réquiem/ não sou lá muito chegado/ E o terno de madeira que estrearei/ Nem foi ainda plantado/ E o frei que vai me dar a extrema-unção/ Ainda é menos que um filho/ E que pra ser comercial, esta canção carece/ De um bom estribilho.)*

Esqueçam Maná, deem tchau ao Manu Chao, tratem com carinho Jorge Drexler, mas sabendo que este é um apadrinhado de Sabina, este senhor de voz rascante movida a álcool e nicotina, que é coisa seriíssima! Este feiticeiro das palavras encontrou a fórmula de manipulá-las a seu bel prazer, e estas, obedientes, não lhe oferecem resistência, entregam-se, dóceis, como cordeirinhos. Este señor é seu pastor, e nada lhes faltará! Que sorte têm estas palavras-ovelhas! As metáforas mais lindas e inimagináveis estão em seu DNA, as rimas, tipo A, correm-lhe pelas veias, e o que é mais fabuloso: generoso, ele não conhece economias, algumas de suas letras, quilométricas, são verdadeiros contos em versos.

(Era uma vez uma velha serpente/ Que trouxe uma maçã e disse: prova/ Eu me chamava Adão, e, certamente, era você a Eva/ Morávamos num prédio sob embargo/ Dois miseráveis de outra região/ Era no Largo do Arouche um paraíso sobre o chão./ No lixo achamos três cadeiras brancas/ Um colchão roto e uma mesa manca/ Enquanto Eva estava nas frituras, eu borrava partituras./ Sabíamos passar bem sem a janta/ Ficar nus com a roupa no varal/ Fumando dessa planta/ da ciência do bem e do mal./ O céu sorri quando Eva se bronzeia/ Naquelas tardes, no terraço, ao sol/ Ninguém viu mais linda sereia em seu estado natural./ E, de repente, em cada janela,/ Tinha um marido perdendo estribeiras/ Sem se importar se passasse na tela Corinthians x Palmeiras./ Um dia, a víbora do prédio em frente/ Ao ver seu homem como nunca o viu/ Ficou doente e telefonou pra Defesa Civil./ Sem documentos, nem mesmo um registro,/ Galhos de arruda, ou tio vereador/ Não teve nem um cristo que viesse em nosso favor./ Eva tomando sol/ Pecado original/ Beijos, arroz, feijão/ Quer mais o quê, Adão?/ Um deus-juiz que fez de si mau uso/ Nos declarou, fora de seu juízo:/ Não há mais vagas para dois intrusos nesse paraíso./ Sobre o colchão, estávamos sem roupa/ Jogando o nosso jogo favorito/ Ao ver entrar a tropa/ Eva não pôde sufocar um grito./ Escada abaixo lhe gritava “desce!”/ Um uniformizado querubim/ Sem se importar que ela estivesse prestes a dar à luz Caim./ Hoje, na feira-livre, Eva vende/ Maçãs da árvore do ex-patrão/ Num shopping toco nosso happy end/ Todos me chamam Adão.)*

Além de grande cantautor, Sabina é dono de um carisma invejável. Nas entrevistas, é espirituoso e divertido, nos shows, encanta o público, que canta junto as letras, inebriado. De quebra, além da obra, tem uma história de vida digna dos melhores roteiros de cinema. Jovem, teve problemas com o pai, policial; mais tarde fugiu do exército e do governo de Franco e foi parar na Inglaterra, país onde viveu por longos anos, defendendo-se cantando na noite; de volta à Espanha, embora tivesse vergonha da voz “de taquara rachada”, influenciado por amigos, investiu na carreira e, por conta da genialidade de suas canções, em pouco tempo se firmou como um dos grandes nomes da canção espanhola e não perdeu o status até hoje. E (mais uma vez a exemplo de Chico) sua voz, que o envergonhava, passou a ser amada por multidões de fãs. Sua grande frustração, contudo, é ser mais conhecido por suas canções que por sua poesia, visto ser também poeta inspirado, autor de uma infinidade de sonetos, muitos deles publicados em seus livros de poesia. Recentemente fez uma turnê por vários países do globo com o não menos famoso Joan Manuel Serrat (quem?). Infelizmente o show não passou por aqui. "Será que algum dia eles vêm aí cantar as canções..." que ninguém conhece?

(Eu não quero um amor civilizado/ Com contrato e cenas de sofá/ Eu não quero que viajes ao passado/ E voltes do mercado/ A ponto de chorar./ Eu não quero almoços com vizinhos/ Eu não quero plantar pra ter raiz/ Eu não quero dar rosas sem espinhos/ Em datas pra ser feliz./ Eu não quero te acompanhar na feira/ Eu não quero que escolhas meu xampu/ Eu não quero usar uma coleira,/ Pendurar as chuteiras,/ Me enterrar qual tatu./ Eu não quero dormir domingo à tarde/ Eu não quero um playground no jardim/ O que eu quero, coração covarde,/ É que morras por mim./ E contigo morrer, se te matares/ E matar-me contigo, se morreres/ Porque o amor, quando não morre, mata/ Porque amores que matam nunca morrem./ Eu não quero fazer economia/ Nunca soube chegar ao fim do mês/ Eu não quero comer no fim do dia/ A refeição sadia/ Dos que não têm mais vez./ Eu não quero esse ar-condicionado/ Eu não quero beijar tua cicatriz/ Eu não quero Veneza em seriados/ Nem postais de Paris./ Não me esperes com teu advogado/ Nem me queiras de volta sem paixão/ Eu não quero ser livre acorrentado,/ Nem carne nem pecado,/ Orgulho ou compaixão./ Eu não quero cegar o que não viste/ Nem fazer um amor assim-assim/ O que eu quero, garota de olhos tristes,/ É que morras por mim./ E contigo morrer, se te matares/ E matar-me contigo, se morreres/ Porque o amor, quando não morre, mata/ Porque amores que matam nunca morrem.)*

***

Ouça algumas das canções más hermosas del mundo de Sabina aqui.

L

*Todas as versões são de Léo Nogueira, vulgo eu.

noche de bodas

Joaquín Sabina en Portugués: 10) Clarisse Grova e a Versão de "Noches de Boda"




Em meu texto anterior, escrito às vésperas do Natal, tratei de suicídio. Algumas pessoas mais sensíveis podem ter se sentido chocadas ou achado de mau-gosto numa época tradicionalmente de esperança abordar tal tema. É, admito que peguei pesado, mas não consegui deixar passar batido o suicídio de uma pessoa que, se não era minha amiga, era ao menos bem próxima. No mais, mau-gosto teve ela quando escolheu se matar nessa época, eu apenas optei pela "morte em literatura".

Desculpem, mas o Natal tem o poder de me deixar triste, deprimido mesmo algumas vezes. Em contrapartida, gosto do Ano-Novo. Por isso resolvi maneirar nas tintas e tratar de assunto mais leve. Pra tanto, optei por escrever o último texto do ano a respeito de uma canção que é um dos mais maravilhosos manifestos em favor da vida já feitos, que pode ser lida/ouvida também como uma forma das mais poéticas de se desejar feliz ano novo.

Trata-se de Noches de Boda, de Joaquín Sabina. Esta foi a primeira canção dele que ouvi na vida. Deu-se em sala de aula, graças a minha querida professora Teodora Freire, que teve o bom-gosto de usá-la como matéria em classe. Não preciso dizer que a canção me encantou de cara e foi responsável por eu começar a pesquisar a respeito da genial obra desse compositor espanhol a quem não exagero ao chamar de gênio.

Confesso que a feitura da versão não foi trabalho dos mais fáceis. Porém, seu resultado me agradou bastante. E, tão logo comecei este projeto de versões, imediatamente imaginei Noites de Bodas na voz de minha mais que estimada parceira carioca Clarisse Grova. Explico: Sabina é um compositor de temas essencialmente masculinos. Portanto, são poucas as canções suas que soam naturais em vozes femininas. E Noches de Boda é uma delas. Assim sendo, eu não poderia deixar passar a chance de ouvi-la na linda voz de Clarisse.


Assim que a convidei e ela topou. Só que entre topar e gravar passou-se um longo tempo. Mas valeu a espera. Quando recebi a gravação, fui tomado por uma emoção que me arrebatou. Clarisse, com seu talento e sua intuição, conseguiu me surpreender. Claro que sei que ela é surpreendente por natureza, mas, mesmo assim, o resultado superou as expectativas. Ouçam e tirem suas próprias conclusões. Pra efeitos informativos, acrescento apenas que esta canção faz parte do disco 19 Días y 500 Noches, de 1999, considerado a obra-prima de Sabina. E, pra terminar, desejo que os versos desta canção lhes cheguem como meus votos de feliz ano novo!

NOITES DE BODAS
Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira

Que a maquiagem não apague seu riso
Que a bagagem não corte suas asas
Que o calendário não seja preciso
Que o dicionário não queime nas brasas

Que as persianas corrijam a aurora
Que Deus ajude quem não dorme cedo
Que os que esperam não contem as horas
E os que matam que morram de medo

Que o fim do mundo te encontre dançando
Que as canções, coisas belas nos contem
Que a dor não ache nem como nem quando
Nem tome o comando
Do hoje e do ontem

Que o coração nunca saia de moda
Que a velhice seja um carrossel
Que cada noite seja noite de bodas
Que não se ponha a lua de mel

Que todas as noites sejam noites de bodas
Que todas as luas sejam luas de mel

Que as verdades não tenham complexos
Que as mentiras pareçam mentiras
Que em vez de guerra, se faça mais sexo
Que brote o amor onde plantam a ira

Que os bons momentos não sejam tão raros
Que cada ceia seja última e plena
Que ser valente não saia tão caro
Que ser covarde não valha a pena

Que não te comprem por menos que nada
Que não te vendam amor sem espinhos
Que não te ninem com contos de fadas
Que nunca fechem os bares vizinhos

Que o coração nunca saia de moda
Que a velhice seja um carrossel
Que cada noite seja noite de bodas
Que não se ponha a lua de mel

Que todas as noites sejam noites de bodas
Que todas as luas sejam luas de mel


Abaixo, a letra original:

NOCHES DE BODA
Joaquín Sabina

Que el maquillaje no apague tu risa
Que el equipaje no lastre tus alas
Que el calendario no venga con prisas
Que el diccionario detenga las balas

Que las persianas corrijan la aurora
Que gane el quiero la guerra del puedo
Que los que esperan no cuenten las horas
Que los que matan se mueran de miedo

Que el fin del mundo te pille bailando
Que el escenario me tiña las canas
Que nunca sepas ni cómo, ni cuándo
Ni ciento volando
Ni ayer ni mañana

Que el corazón no se pase de moda
Que los otoños te doren la piel
Que cada noche sea noche de bodas
Que no se ponga la luna de miel

Que todas las noches sean noches de boda
Que todas las lunas sean lunas de miel

Que las verdades no tengan complejos
Que las mentiras parezcan mentira
Que no te den la razón los espejos
Que te aproveche mirar lo que miras

Que no se ocupe de ti el desamparo
Que cada cena sea tu última cena
Que ser valiente no salga tan caro
Que ser cobarde no valga la pena

Que no te compren por menos de nada
Que no te vendan amor sin espinas
Que no te duerman con cuentos de hadas
Que no te cierren el bar de la esquina

Que el corazón no se pase de moda
Que los otoños te doren la piel
Que cada noche sea noche de bodas
Que no se ponga la luna de miel

Que todas las noches sean noches de boda
Que todas las lunas sean lunas de miel







oaquín Sabina en Portugués: 9) Gabriel de Almeida Prado e a Versão de "Corre, Dijo la Tortuga"


Este texto caberia tanto no Ninguém me Conhece quanto no Os Manos e as Minas, até mesmo no Trinca de Copas, mas calhou que o moço em questão topou participar deste meu projetinho e tascou sua (bela) interpretação de Corre, Dijo la Tortuga, assim que cá está ele no Joaquín Sabina en Portugués. Grande aquisição!

Trata-se do jovem... Sim, caros, os jovens também têm seu espaço neste espaço! Aliás, por falar nisso, tenho que admitir que Gabriel de Almeida Prado faz uma música de gente grande! E tenho que agradecer a Élio Camalle por ter me apresentado o moço. A satisfação, que já era grande ao notá-lo grande compositor e dono de uma voz privilegiada, ficou imensa quando estreitamos os laços e pude perceber que rolava uma bela química entre nós que resultou em uma parceria cujo número aumenta a cada dia. Depois de Marcio Policastro, Gabriel tem sido um parceiro com quem mais a arte de compor tem se mostrado fácil e prolífica.

Tenho que dizer aos demais parceiros, principalmente àqueles que me mandaram melodias recentemente, que não se magoem com minhas palavras nem se sintam preteridos. É que letrar uma melodia é tarefa que requer tempo e inspiração, ao passo que fazer uma letra antes é mais fácil (pois moldamos a "imaginária" melodia de acordo com a métrica da qual necessitamos em nossa suposta letra). Ainda mais quando atiçado pelo frescor (não confundir com frescura!) da juventude de Gabriel, o Gabo, que tem sido generoso comigo ao compartilhar letras que poderia fazer só, o que acaba me motivando a retribuir a gentileza, razão pela qual nossas crias têm se multiplicado.


Mas isso é assunto pra um futuro Trinca de Copas. Vamos a Sabina! Pois bem, Corre, Dijo la Tortuga é uma deliciosa canção (na qual a verve "sabineira" aparece escancaradamente) que faz parte do excelente CD Mentiras Piadosas, que veio ao mundo em 1990. Mas não chegou por aqui, como, aliás, toda a obra deste genial compositor que pode caminhar tranquilamente pela calçada da avenida Paulista sem ser abordado por viva alma. Considerações à parte, a ideia de convidar o Gabo a cantar essa canção nasceu de um papo que tivemos no qual ele me disse curtir bastante o trabalho da mexicana Julieta Venegas. Imediatamente me lembrei de que ela gravara Corre... num CD chamado ...Entre Todas las Mujeres, no qual várias cantoras de língua espanhola cantam canções de Sabina.

Como a citada canção era uma das que eu vertera ao português, enviei-lhe a letra da versão e as duas gravações, a de Julieta e a de Sabina. Pra meu espanto ele preferiu a do próprio autor, o que, confesso, me alegrou. E me alegrou mais ainda receber a gravação que ele fez de minha versão, inclusive achei bacanas as ideias de arranjo (mandou bem, Gabo!). Notem como a introdução lembra uma tartaruga correndo (estarei viajando?). Bem, deixemos de prosa, senão a tartaruga foge (e o cara que nunca saiu da cidade resolve viajar), e vamos ao que interessa, que é a canção. Espero que curtam tanto quanto eu:

CORRE, DISSE A TARTARUGA
Antonio García de Diego - Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira

Corre, disse a tartaruga; vem me pegar, disse o covarde;
Já tô de volta, disse um cara que nunca saiu da cidade;
Salva-me, disse o carrasco; sei que foi você, disse o culpado;
Cala a boca, disse o surdo; hoje é quinta, disse a terça;
E não perfume frases que me façam cair na conversa
Quero ficar só comigo
Com o íntimo inimigo que se esconde num porão do meu coração
O receoso, o fugitivo, a face oculta de um refém
O filho bastardo da cautela
O que apenas se revela, se eu me revelar também
O caprichoso, o orgulhoso,
O outro, o cúmplice traidor

Eu tô falando é com você, que nunca escuta meus conselhos
Eu tô gritando é pra você do outro lado do espelho
Que tá cansado de viver aí chorando de joelhos
A quem nada devo além do empurrão que ontem
Me fez cometer essa canção

Não minta, disse o mentiroso; passe bem, disse o coveiro;
Não perca a sua alma, disse, pesando a carne, o açougueiro;
Prova-me, disse o veneno; ama-me com o ódio dos amantes
Qual seu preço?, disse o gângster; tô limpo, disse o traficante;
Já tava me entregando quase a ponto de explodir as bases,
Quando, à beira do caminho,
Uma flor, com seus espinhos, me cegou, e eu pude ver lábios de mulher
Que tal me pagar um trago?
Eu te levo aonde quiser
Quando bebo, gosto de um afago
Eu lhe perguntei quem era. Disse que era mais de mil:
A puta, a santa, a bruxa, a fada… Falou calada e me sorriu

A original:

CORRE, DIJO LA TORTUGA
Antonio García de Diego - Joaquín Sabina

Corre dijo la tortuga, atrévete dijo el cobarde,
estoy de vuelta dijo un tipo que nunca fue a ninguna parte.
Sálvame dijo el verdugo, sé que has sido tú dijo el culpable.
No me grites dijo el sordo, hoy es jueves dijo el martes
y tú no te perfumes con palabras para consolarme
déjame sólo conmigo,
con el íntimo enemigo que malvive de pensión en mi corazón,
el receloso, el fugitivo, el más oscuro de los dos,
el pariente pobre de la duda.
El que nunca se desnuda si no me desnudo yo,
el caprichoso, el orgulloso,
el otro, el cómplice traidor.

A ti te estoy hablando, a ti, que nunca sigues mis consejos,
a ti te estoy gritando, a ti, que estás metido en mi pellejo,
a ti que estás llorando ahí, al otro lado del espejo,
a ti que no te debo, más que el empujón que anoche
me llevó a escribir esta canción.

No mientas dijo el mentiroso, buena suerte dijo el gafe,
ocúpate del alma dijo el gordo vendedor de carne,
pruébame dijo el veneno, ámame como odian los amantes.
Drogas no, dijo el camello, cuanto vales dijo el ganster,
A punto de rendirme estaba a un paso de quemar la naves,
cuando al borde del camino,
por dos veces el destino que hizo un guiño en forma de labios de mujer.
Nos invitas a una copa, yo te secaré el sudor,
yo te abrazaré bajo la ropa.
Y quien va a dormir conmigo, ni lo sueñes contestó,
una indignada, y otra encantada no dijo nada y sonrió.

***

P.S. Essa montagem da foto ficou nada a ver, hem, Léo?

martes, 13 de diciembre de 2011

Letras de canciones.

Letra | Canción de navidad


No es verdad que me dé náuseas la navidad
me conmueve la madre
el niño, la mula y el buey
lo que pasa es que estalla
una bomba en noche en la noche de paz
lo que pasa es que apesta
a zambomba el mensaje del Rey.

El portal de Belén
es un zulo virtual
pero en vez de turrón
este invierno me como un marrón
unos hígados chumbos envueltos en Papel Albal
y Gaspar en lugar de una bici me pone carbón.

Ojalá no abrasara el calor del hogar
cómo hacer cuando toca reír
si me da por llorar
corazón, no me quieras matar
corazón
,
sé de sobra quién paga y quién cobra
quien hace vudú
quien satura el cubo de basura de tu cotillón
San José se enfadó con el padre del Niño Jesús.

Para ti escribí este sol fa do re mi
te lo vas a encontrar en el árbol de Papa Noel
cómo voy a decirte que no cuando sabes que sí
que el cuscús sabe a grano de pus tatuado en la piel.

Satanás es un capo llevando el compás
infiltrado en el supermercado de la navidad.

No es verdad…



Letra | Joan Manuel Serrat y Joaquín Sabina


| Cuenta Conmigo

Si quisieras quererme
dejaría de fumar
y me haría vegetariano
Si durmieras conmigo
dormirían menos triste
las palmas de mis manos
Y si los buenos chicos te atosigan
y buscas chicos duros
fingiré ser el duro que castiga
con besos de cianuro.

Si buscas alguien que te trate mal
cuenta conmigo
Si quieres guerra guardo un arsenal
bajo el ombligo
Y si se trata de tratarte bien
mejor que un millonario sin dinero
Olvídate de chulos todo a cien
por ti seré un perfecto caballero.

Si me abrieras tu falda de lunares
y me pidieras que me cuide un poco
haría footing por los bulevares
con chándal y a lo loco
Y si es mejor quererte sin permiso
con rabia y al contado,
yo te querré, como jamás te quiso
quién más te haya marcado.

Si buscas alguien que te trate mal
cuenta conmigo.
Yo nunca tuve una mujer fatal
ni tú un amigo.
Y si se trata de tratarte bien
mejor que un Lord con pantalón de cuero
Olvídate de chulos todo a cien
por ti seré un perfecto caballero.

Si quieres un maldito perdedor
que humille y que malquiera
ponme un pisito y yo seré el peor
cabrón de tu escalera.
Y si te ponen los matices de mi lado femenino
por ti comulgaré en misa de diez
con ruedas de molino.

Si buscas alguien que te trate mal
cuenta conmigo.
Yo nunca tuve una mujer fatal
ni tú un amigo.
Y si se trata de tratarte bien
mejor que un Casanova con liguero,
olvídate de chulos todo a cien
por ti seré un perfecto caballero.






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