Joaquín Sabina en Portugués: 10) Clarisse Grova e a Versão de "Noches de Boda"
Em meu texto anterior, escrito às vésperas do Natal, tratei de suicídio. Algumas pessoas mais sensíveis podem ter se sentido chocadas ou achado de mau-gosto numa época tradicionalmente de esperança abordar tal tema. É, admito que peguei pesado, mas não consegui deixar passar batido o suicídio de uma pessoa que, se não era minha amiga, era ao menos bem próxima. No mais, mau-gosto teve ela quando escolheu se matar nessa época, eu apenas optei pela "morte em literatura".
Desculpem, mas o Natal tem o poder de me deixar triste, deprimido mesmo algumas vezes. Em contrapartida, gosto do Ano-Novo. Por isso resolvi maneirar nas tintas e tratar de assunto mais leve. Pra tanto, optei por escrever o último texto do ano a respeito de uma canção que é um dos mais maravilhosos manifestos em favor da vida já feitos, que pode ser lida/ouvida também como uma forma das mais poéticas de se desejar feliz ano novo.
Trata-se de Noches de Boda, de Joaquín Sabina. Esta foi a primeira canção dele que ouvi na vida. Deu-se em sala de aula, graças a minha querida professora Teodora Freire, que teve o bom-gosto de usá-la como matéria em classe. Não preciso dizer que a canção me encantou de cara e foi responsável por eu começar a pesquisar a respeito da genial obra desse compositor espanhol a quem não exagero ao chamar de gênio.
Confesso que a feitura da versão não foi trabalho dos mais fáceis. Porém, seu resultado me agradou bastante. E, tão logo comecei este projeto de versões, imediatamente imaginei Noites de Bodas na voz de minha mais que estimada parceira carioca Clarisse Grova. Explico: Sabina é um compositor de temas essencialmente masculinos. Portanto, são poucas as canções suas que soam naturais em vozes femininas. E Noches de Boda é uma delas. Assim sendo, eu não poderia deixar passar a chance de ouvi-la na linda voz de Clarisse.
Assim que a convidei e ela topou. Só que entre topar e gravar passou-se um longo tempo. Mas valeu a espera. Quando recebi a gravação, fui tomado por uma emoção que me arrebatou. Clarisse, com seu talento e sua intuição, conseguiu me surpreender. Claro que sei que ela é surpreendente por natureza, mas, mesmo assim, o resultado superou as expectativas. Ouçam e tirem suas próprias conclusões. Pra efeitos informativos, acrescento apenas que esta canção faz parte do disco 19 Días y 500 Noches, de 1999, considerado a obra-prima de Sabina. E, pra terminar, desejo que os versos desta canção lhes cheguem como meus votos de feliz ano novo!
NOITES DE BODAS
Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira
Que a maquiagem não apague seu riso
Que a bagagem não corte suas asas
Que o calendário não seja preciso
Que o dicionário não queime nas brasas
Que as persianas corrijam a aurora
Que Deus ajude quem não dorme cedo
Que os que esperam não contem as horas
E os que matam que morram de medo
Que o fim do mundo te encontre dançando
Que as canções, coisas belas nos contem
Que a dor não ache nem como nem quando
Nem tome o comando
Do hoje e do ontem
Que o coração nunca saia de moda
Que a velhice seja um carrossel
Que cada noite seja noite de bodas
Que não se ponha a lua de mel
Que todas as noites sejam noites de bodas
Que todas as luas sejam luas de mel
Que as verdades não tenham complexos
Que as mentiras pareçam mentiras
Que em vez de guerra, se faça mais sexo
Que brote o amor onde plantam a ira
Que os bons momentos não sejam tão raros
Que cada ceia seja última e plena
Que ser valente não saia tão caro
Que ser covarde não valha a pena
Que não te comprem por menos que nada
Que não te vendam amor sem espinhos
Que não te ninem com contos de fadas
Que nunca fechem os bares vizinhos
Que o coração nunca saia de moda
Que a velhice seja um carrossel
Que cada noite seja noite de bodas
Que não se ponha a lua de mel
Que todas as noites sejam noites de bodas
Que todas as luas sejam luas de mel
Abaixo, a letra original:
NOCHES DE BODA
Joaquín Sabina
Que el maquillaje no apague tu risa
Que el equipaje no lastre tus alas
Que el calendario no venga con prisas
Que el diccionario detenga las balas
Que las persianas corrijan la aurora
Que gane el quiero la guerra del puedo
Que los que esperan no cuenten las horas
Que los que matan se mueran de miedo
Que el fin del mundo te pille bailando
Que el escenario me tiña las canas
Que nunca sepas ni cómo, ni cuándo
Ni ciento volando
Ni ayer ni mañana
Que el corazón no se pase de moda
Que los otoños te doren la piel
Que cada noche sea noche de bodas
Que no se ponga la luna de miel
Que todas las noches sean noches de boda
Que todas las lunas sean lunas de miel
Que las verdades no tengan complejos
Que las mentiras parezcan mentira
Que no te den la razón los espejos
Que te aproveche mirar lo que miras
Que no se ocupe de ti el desamparo
Que cada cena sea tu última cena
Que ser valiente no salga tan caro
Que ser cobarde no valga la pena
Que no te compren por menos de nada
Que no te vendan amor sin espinas
Que no te duerman con cuentos de hadas
Que no te cierren el bar de la esquina
Que el corazón no se pase de moda
Que los otoños te doren la piel
Que cada noche sea noche de bodas
Que no se ponga la luna de miel
Que todas las noches sean noches de boda
Que todas las lunas sean lunas de miel
oaquín Sabina en Portugués: 9) Gabriel de Almeida Prado e a Versão de "Corre, Dijo la Tortuga"
Este texto caberia tanto no Ninguém me Conhece quanto no Os Manos e as Minas, até mesmo no Trinca de Copas, mas calhou que o moço em questão topou participar deste meu projetinho e tascou sua (bela) interpretação de Corre, Dijo la Tortuga, assim que cá está ele no Joaquín Sabina en Portugués. Grande aquisição!
Trata-se do jovem... Sim, caros, os jovens também têm seu espaço neste espaço! Aliás, por falar nisso, tenho que admitir que Gabriel de Almeida Prado faz uma música de gente grande! E tenho que agradecer a Élio Camalle por ter me apresentado o moço. A satisfação, que já era grande ao notá-lo grande compositor e dono de uma voz privilegiada, ficou imensa quando estreitamos os laços e pude perceber que rolava uma bela química entre nós que resultou em uma parceria cujo número aumenta a cada dia. Depois de Marcio Policastro, Gabriel tem sido um parceiro com quem mais a arte de compor tem se mostrado fácil e prolífica.
Tenho que dizer aos demais parceiros, principalmente àqueles que me mandaram melodias recentemente, que não se magoem com minhas palavras nem se sintam preteridos. É que letrar uma melodia é tarefa que requer tempo e inspiração, ao passo que fazer uma letra antes é mais fácil (pois moldamos a "imaginária" melodia de acordo com a métrica da qual necessitamos em nossa suposta letra). Ainda mais quando atiçado pelo frescor (não confundir com frescura!) da juventude de Gabriel, o Gabo, que tem sido generoso comigo ao compartilhar letras que poderia fazer só, o que acaba me motivando a retribuir a gentileza, razão pela qual nossas crias têm se multiplicado.
Mas isso é assunto pra um futuro Trinca de Copas. Vamos a Sabina! Pois bem, Corre, Dijo la Tortuga é uma deliciosa canção (na qual a verve "sabineira" aparece escancaradamente) que faz parte do excelente CD Mentiras Piadosas, que veio ao mundo em 1990. Mas não chegou por aqui, como, aliás, toda a obra deste genial compositor que pode caminhar tranquilamente pela calçada da avenida Paulista sem ser abordado por viva alma. Considerações à parte, a ideia de convidar o Gabo a cantar essa canção nasceu de um papo que tivemos no qual ele me disse curtir bastante o trabalho da mexicana Julieta Venegas. Imediatamente me lembrei de que ela gravara Corre... num CD chamado ...Entre Todas las Mujeres, no qual várias cantoras de língua espanhola cantam canções de Sabina.
Como a citada canção era uma das que eu vertera ao português, enviei-lhe a letra da versão e as duas gravações, a de Julieta e a de Sabina. Pra meu espanto ele preferiu a do próprio autor, o que, confesso, me alegrou. E me alegrou mais ainda receber a gravação que ele fez de minha versão, inclusive achei bacanas as ideias de arranjo (mandou bem, Gabo!). Notem como a introdução lembra uma tartaruga correndo (estarei viajando?). Bem, deixemos de prosa, senão a tartaruga foge (e o cara que nunca saiu da cidade resolve viajar), e vamos ao que interessa, que é a canção. Espero que curtam tanto quanto eu:
CORRE, DISSE A TARTARUGA
Antonio García de Diego - Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira
Corre, disse a tartaruga; vem me pegar, disse o covarde;
Já tô de volta, disse um cara que nunca saiu da cidade;
Salva-me, disse o carrasco; sei que foi você, disse o culpado;
Cala a boca, disse o surdo; hoje é quinta, disse a terça;
E não perfume frases que me façam cair na conversa
Quero ficar só comigo
Com o íntimo inimigo que se esconde num porão do meu coração
O receoso, o fugitivo, a face oculta de um refém
O filho bastardo da cautela
O que apenas se revela, se eu me revelar também
O caprichoso, o orgulhoso,
O outro, o cúmplice traidor
Eu tô falando é com você, que nunca escuta meus conselhos
Eu tô gritando é pra você do outro lado do espelho
Que tá cansado de viver aí chorando de joelhos
A quem nada devo além do empurrão que ontem
Me fez cometer essa canção
Não minta, disse o mentiroso; passe bem, disse o coveiro;
Não perca a sua alma, disse, pesando a carne, o açougueiro;
Prova-me, disse o veneno; ama-me com o ódio dos amantes
Qual seu preço?, disse o gângster; tô limpo, disse o traficante;
Já tava me entregando quase a ponto de explodir as bases,
Quando, à beira do caminho,
Uma flor, com seus espinhos, me cegou, e eu pude ver lábios de mulher
Que tal me pagar um trago?
Eu te levo aonde quiser
Quando bebo, gosto de um afago
Eu lhe perguntei quem era. Disse que era mais de mil:
A puta, a santa, a bruxa, a fada… Falou calada e me sorriu
A original:
CORRE, DIJO LA TORTUGA
Antonio García de Diego - Joaquín Sabina
Corre dijo la tortuga, atrévete dijo el cobarde,
estoy de vuelta dijo un tipo que nunca fue a ninguna parte.
Sálvame dijo el verdugo, sé que has sido tú dijo el culpable.
No me grites dijo el sordo, hoy es jueves dijo el martes
y tú no te perfumes con palabras para consolarme
déjame sólo conmigo,
con el íntimo enemigo que malvive de pensión en mi corazón,
el receloso, el fugitivo, el más oscuro de los dos,
el pariente pobre de la duda.
El que nunca se desnuda si no me desnudo yo,
el caprichoso, el orgulloso,
el otro, el cómplice traidor.
A ti te estoy hablando, a ti, que nunca sigues mis consejos,
a ti te estoy gritando, a ti, que estás metido en mi pellejo,
a ti que estás llorando ahí, al otro lado del espejo,
a ti que no te debo, más que el empujón que anoche
me llevó a escribir esta canción.
No mientas dijo el mentiroso, buena suerte dijo el gafe,
ocúpate del alma dijo el gordo vendedor de carne,
pruébame dijo el veneno, ámame como odian los amantes.
Drogas no, dijo el camello, cuanto vales dijo el ganster,
A punto de rendirme estaba a un paso de quemar la naves,
cuando al borde del camino,
por dos veces el destino que hizo un guiño en forma de labios de mujer.
Nos invitas a una copa, yo te secaré el sudor,
yo te abrazaré bajo la ropa.
Y quien va a dormir conmigo, ni lo sueñes contestó,
una indignada, y otra encantada no dijo nada y sonrió.
***
P.S. Essa montagem da foto ficou nada a ver, hem, Léo?
viernes, 30 de diciembre de 2011
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